crítica

Poliopsia e as imagens [Ignis]

Texto: A partir de Cinza às Cinzas de Harold Pinter Encenação: Vítor Freita Interpretação: Gabriel Gomes e Marta Caeiro Cenografia: Vítor Freitas Sonoplastia: Leonardo Outeiro Vídeo: Roberto Terra Produção: Héloïse Rego Co-produção: TMG Criação: Aquilo Teatro e ArDemente

Teatro Municipal da Guarda, 9 de Dezembro de 2021

(ensaio aberto)

Estreia em breve (dias 17 e 18 de Dezembro) na caixa de palco do grande auditório do Teatro Municipal da Guarda, o espectáculo Ignis, do Aquilo Teatro, com encenação de Vítor Freitas e interpretação de Gabriel Gomes e Marta Caeiro. O espectáculo, que parte do texto de Harold Pinter Ashes to Ashes (1996), mantém, do início ao fim, um ambiente simultaneamente familiar e estranho. Por um lado, temos uma cenografia cuidada que nos mostra um pequeno quarto com poltrona, chaleira, chávenas, um livro de receitas, uma cadeira herdada dos avós, fotografias e uma máquina de filmar. Por outro lado, a tensão entre o casal, interpretado pelos dois actores, a sua identidade ambígua e a exploração de memórias com um vigor onírico, conseguido não só através do texto adaptado, mas também pela utilização de imagem-vídeo. Esta tensão equilibrada entre o familiar e o estranho-onírico concede uma força performativa incomum ao espaço partilhado com o público. A materialização da capacidade de Pinter de promover esta tensão, que é, aliás, recorrente nas suas peças, é especialmente de louvar quando considerada a quase total ausência de didascálias do texto original.

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